Nada mais incongruente
associar duas palavras de significados tão diferentes — termo criado por Rudolf
Steiner na sua Filosofia da Liberdade (4ª ed. São Paulo : Antroposófica, 2008),
para refutar a arrogância filosófica do séc. XIX: “o mundo é minha
representação cerebral, fruto da minha imaginação”. Qual a argumentação para
referendar a Fantasia Moral? Terá importância para nossa época?
A Moral nasceu na antiga
Roma, nos comícios e assembleias populares, numa forma de normatizar
igualitariamente posturas sociais dos indivíduos — resultando na Justiça e no
Direito. Contrário da “ética”, que nasceu na antiga Grécia e diz respeito à
busca de virtude — caminho interior de realização individual, que Steiner
renomeou de “individualismo ético”. Por isso não se pode dizer “código de
ética”, pois o pensar, o sentir, ainda repousam dentro do indivíduo. Só quando
o ato, o gesto, forem executados no mundo, se é passível de julgamento moral.
Por isso os códigos devem ser morais.
Já a fantasia é revelada
na capacidade de fazer imagens mentais, um caminho interior (como a ética). Se
olho um objeto, faço sua imagem na minha cabeça — amanhã posso recordar, capacidade
básica da nossa criatividade. Se não consigo recordar, serei demente. Do ponto
de vista científico pode ser errado e falso em relação ao original; mas
artisticamente, é uma habilidade imponderável emocionante (por isso a fantasia
faz parte da alma): posso retocar ou mudar a imagem para que ela se torne
bonita e me faça feliz. A imaginação é baseada em mudança de ideias ou de
imagens. Nesse caso, todos somos artistas de nossas próprias ideias. Sem
imaginação ou fantasia não haveria invenção e nem progresso; tudo permaneceria
o mesmo, preso ao passado normativo.
Ou seja, vivemos essa
dualidade, essa polarização: no mundo somos induzidos a ser críticos,
competitivos e agressivos — por isso o código “moral” (externo) serve para nos
dar limites. Em contrapartida, no nosso interior, carregamos benevolência,
benquerença, afabilidade - e até perdoamos nossos deslizes — e, ao usar a
“fantasia”, criamos possibilidades imaginativas
com graciosidade, estética
e beleza.
Mas o fator mais
importante da Fantasia Moral tem a ver com a “inversão” dessas forças = para o
interior (onde vive a fantasia) devemos introjetar a “moralidade”:
auto-crítica, auto-censura, auto-admoestação. E para fora (onde vive a moral)
devemos exalar “fantasia”: com grandiosidade, com beleza, com amor nos nossos
gestos, profissões e criações.
Devemos colocar nosso
interior para fora, externar a “fantasia através da moralidade”, para nos
tornarmos indivíduos moralmente produtivos. Assim construiremos novo amanhã.
Antonio Marques
Referência: Rundbrief zur
Anthroposophie
Dr F. Husemann
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