domingo, 9 de agosto de 2020

CORONAVÍRUS e ECONOMIA




Toda doença ou crise é uma chance para repensarmos sobre nós mesmos e sobre o mundo em que vivemos. O que podemos aproveitar deste coronavírus? A separação compulsória das pessoas nos levou a uma tomada de auto consciência, como fator de crescimento individual, como ser autônomo e a refletir sobre nossa atuação no mundo — através do “trabalho”.

Com o mercado paralisado, queda na arrecadação e o perigo iminente de perda de emprego, “patrão e funcionário” foram obrigados a sentar e discutir sobre o trabalho. Ambos precisam procurar uma solução — sem intermediação sindical, instituição esta, resquício da Idade Média, de interesse classista e que não entende como funciona a engrenagem da economia.

Ambos começaram a vestir a camisa da empresa, pois é daí que usufruem lucro e salário (ou remuneração). Ambos tiveram que abrir mão de certas regalias para sobreviver: diminuição de trabalho com diminuição de ganho. Eles chegaram ao “valor agregado”, cujo significado traduz que ambos trabalham para o mesmo objetivo. Como funciona isso?

Vamos começar pela questão salarial: “pagar pelo trabalho” vem do tempo em que ainda existiam escravos, quando o ser humano era vendido como mercadoria. Essa visão distorcida ocorre justamente por faltarem as questões básicas na troca de valores: “trabalho versus salário”. Assim se estabelece uma falsa noção do chamado vínculo empregatício. O “mercado de escravos” transformou-se em “mercado de trabalho”. Esse é um dos motivos de o “egoísmo” do patrão usurpar o trabalho alheio. Em contrapartida, o funcionário se transforma em um auto-sustentador. Ou seja, ele trabalha para si, egoisticamente para o seu salário. Como se sabe, pela “divisão de trabalho”, ninguém trabalha para si, mas se trabalha para os outros, para as necessidades dos outros. O trabalho também não é mercadoria, e não será o número de horas trabalhadas que resultará no salário correspondente. Como fica isso? A questão salarial precisa ser melhor esclarecida, através de outro enfoque: Para começar uma empresa, o industrial ou o pioneiro, precisará de “capital” para iniciar o empreendimento, “solicitar terras”, maquinários, pagar os juros do “empréstimo” etc. O restante do que entra é o valor proporcionado por todos os que trabalham naquele serviço. Denomina-se “valor agregado”, ou seja, “valor” que pode ser repartido entre todos os que participam desse crescimento empresarial. Portanto o salário constitui a participação no “valor agregado” da empresa. Por isso o salário não é “despesa” e nem corresponde ao “preço do trabalho”. Aliás, o que é vendido não é o trabalho, mas sim o “produto” do trabalho. Por isso a palavra certa para “salário” é remuneração e isso traduz o “valor do trabalho” e não o seu preço. O produto do trabalho, no fundo, pertence ao funcionário. Nesse caso, toca-se num problema crítico, que é a relação de trabalho. Ou seja, não se troca o trabalho por qualquer outra coisa, pois não existe um valor que possa definir o “trabalho” de outro elemento. Em verdade, o que ocorre é uma troca de valores. O funcionário produz algo e o empresário apenas lhe compra o produto final. Portanto é o empresário quem compra os produtos do trabalhador e, com seu espírito empreendedor empresarial, consegue usufruir o lucro na circulação da mercadoria, através do preço. Portanto, o preço tem a ver com a mercadoria e deve ser procurado entre os comerciantes, aqueles que compram e vendem. Desse modo, nas relações de trabalho, ocorre uma verdadeira compra. Por isso a “relação empregatícia” deve ser baseada em novos elementos de “troca”, entre os dois interessados: o empregador e o empregado. Ambos têm um objetivo comum, o de crescimento da empresa. Ou seja, ambos disputam adistribuição de rendimentos, o “valor agregado”.

Por isso, Economia tem a ver com “produção, circulação e consumo de bens materiais para satisfazer as necessidades humanas”. No fundo, significa a “realização do homem no mundo”. A mercadoria é colocada em um fluxo globalizado, mundial, para ser consumida. É preciso que os três interessados, na vida econômica, “o produtor, o comerciante e o consumidor”, ou seus representantes, se reúnam em “Associações Econômicas”, no sentido de traçar as verdadeiras metas econômicas. Só assim se poderá controlar o preço, valorizar o trabalho humano e atender aos interesses do consumidor!
Acho que o mundo irá mudar depois desta epidemia. Se não mudar, outra epidemia virá para nos ensinar.

Antonio Marques
Membro do Conselho Cultural do Brasil (CCB)


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