domingo, 9 de agosto de 2020

CRIPTOMOEDAS



A criptomoeda é um mercado de lucratividade volátil, através da mídia, sem um sistema bancário central regulador. Grande parte usa sistema de controle descentralizado com base na tecnologia de blockchain, que é um tipo de livro-registro distribuído e operado numa rede ponto-a-ponto (peer-to-peer) através de milhares de computadores, onde todos possuem uma cópia de todo histórico das transações, impedindo que qualquer membro promova alterações no registro ou no software.

Comparadas com moedas comuns mantidas por instituições financeiras ou em forma de dinheiro em mãos, ascriptomoedas são menos suscetíveis às ações judiciais, o que permite o anonimato; e por isso o grande perigo de se tornar refúgio para lavagem de dinheiro. Mas não estão susceptíveis à hackers: em 2018, o Bitcoin Gold, uma vertente daBitcoin, sofreu um ataque de 51%; isso significa que quem controlar 51% tem o poder de processamento para forçar o registro de uma operação falsa. Foi o que fez um hacker e pode ter roubado até US$ 18 milhões.

Porque existe a criptomoeda? Qual seu significado? O que traduz dinheiro virtual circulando, sem um órgão central regulador? Nesse caso, qual a finalidade do “banco”?

A cripto é reflexo da cartilha neoliberal no mercado, na liberdade de se poder fazer de tudo em termos de ganância financeira, de se usar o dinheiro como motivo de riqueza patrimonial, de se buscar o lucro especulativo na ciranda financeira etc. Ou seja: seu objetivo é lucrar e lucrar, no supra-sumo do egoísmo anti-social (abocanho um naco maior do que é de todos). Isso só existe porque foi implantado o Plano White (FMI = International Monetary Fund), norte-americano em Bretton Woods (1944), para a recuperação da economia no pós-guerra, em detrimento ao Plano ICU (International Clearing Union ou Câmara de Compensação Internacional), do economista britânico John Maynard Keynes (1883 – 1946).

No entanto é preciso ter clareza do significado do dinheiro. Em primeiro lugar é preciso considerar o dinheiro como reflexo da atividade humana; ou seja, da “produção” humana é que deve resultar no “dinheiro” – e não o contrário. Além disso, deve-se considerar o dinheiro como “unidade de conta”, com objetivo contábil. Nesse caso, o “lucro normal auto-sustentado” deve ser direcionado de novo à produção e o “super-lucro especulativo de risco-zero” deve ser canalizado para educação, arte e saúde. Em segundo lugar, o dinheiro representa “o espírito humano materializado”; ou seja, é a atividade humana se realizando no mundo.

Comparando a um organismo humano, o dinheiro representa o “sangue” que, ao percorrer pequenos vasos sanguíneos (capilares), “caminha sozinho” (igual ao cripto). Mas quando o sangue cai na gravidade (nos grandes vasos), começa a parar. É preciso que uma “força propulsora” imprima novamente maior “velocidade” e isso é realizado pelocoração. Esta é a função do Banco. Além disso, antes de devolver o sangue ao corpo, o que o coração faz? Encaminha o sangue ao pulmão, para ser “oxigenado”, isto é, para o sangue ficar novo. O mesmo se observa no caso de certa quantidade de dinheiro ficar guardada em casa: eleenvelhece (por ter ficado fora do circuito econômico). Precisa ser “revitalizado” peloBanco, para se transformar em “dinheiro novo” e ser colocado novamente na “circulação”. Assim o seu “poder de compra” aumenta. E é isso praticamente o que o banco faz.

Nessa mesma linha de raciocínio, a moeda virtual seria a “circulação sanguínea” (dinheiro circulando) sem um órgão central (coração). Outra imagem: o excesso de vitalidade circulatória leva a um processo “inflamatório” ou ao “câncer sanguíneo”. Dessa maneira o organismo social se torna doentio. 
Para entender a finalidade bancária, vamos buscar sua origem: o Banco foi criação dos Templários, ordem religiosa cristã guerreira medieval (1119 – 1312). Nasceu como “banca” na praça das feiras e servia para “troca” (cambiare) de dinheiro e transações financeiras, na qual os banqueiros avaliavam, pesavam e trocavam muitas espécies de moedas. Podiam-se: negociar, pedir empréstimos, pagar dívidas, adquirir letras de crédito e de câmbio, nota promissória etc. Não havia “juro” (era considerado usura pela Igreja), pois não se podia lucrar com o tempo; pois o tempo pertence a Deus etc. Foi o período de grandes construções: em pouco menos de 200 anos foram construídas 300 catedrais (Chartres, Rouen, Reims etc), considerado o melhor período da Idade Média, porque o dinheiro foi usado altruisticamente. Mas essa Ordem foi massacrada pelo rei francês Felipe, o Belo. Em Portugal sobreviveu como Ordem de Cristo (criada em 1319) e veio para o Brasil nas caravelas de Cabral, portando a cruz de Malta insuflada pelos bons ventos.
       
Se esse impulso veio para o Brasil, o que estamos fazendo para recolocar o organismo social de volta nos "trilhos" do progresso e do futuro? Cabe a nós curar o organismo social doente; ou seja, é necessário que existam "banco" (coração) e "dinheiro circulando" (circulação sanguínea), para que o organismo social se torne saudável. Para isso é preciso que cheguemos ao capital livre das mãos dos indivíduos --- para se tornar capital acumulativo (ou capital devedor), cuja finalidade será se transformar em “capital de empréstimo”, para que, através do espírito criador humano, se transforme em “capital produtivo”. A isso Steiner denomina de circulação de capital – e seus recursos (capital) poderão vir da vida produtiva, desde que os industriais considerem essa medida mais humana e ecológica, numa nova ordem social. Quando um interessado em começar um empreendimento e precisar de recursos financeiros, o Conselho Cultural (administrador do dinheiro através do Banco Social) analisará se tal empréstimo tem cabimento, o prazo de retorno do dinheiro etc. Assim o dinheiro poderá assumir a sua verdadeira e específica função no mundo. Ou seja, este Banco Social deverá visar a “circulação do dinheiro”, no sentido de fomentar o capital de empréstimo e de doação, para aqueles que necessitam de meios para trabalhar economicamente no mundo e para a cultura / saúde / ensino, respectivamente.

       
Antonio Marques
Membro do Conselho Cultural do Brasil

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