A criptomoeda é um mercado
de lucratividade volátil, através da mídia, sem um sistema bancário central
regulador. Grande parte usa sistema de controle descentralizado com base na
tecnologia de blockchain, que é um tipo de livro-registro distribuído e operado
numa rede ponto-a-ponto (peer-to-peer) através de milhares de computadores,
onde todos possuem uma cópia de todo histórico das transações, impedindo que
qualquer membro promova alterações no registro ou no software.
Comparadas com moedas
comuns mantidas por instituições financeiras ou em forma de dinheiro em mãos,
ascriptomoedas são menos suscetíveis às ações judiciais, o que permite o
anonimato; e por isso o grande perigo de se tornar refúgio para lavagem de
dinheiro. Mas não estão susceptíveis à hackers: em 2018, o Bitcoin Gold, uma
vertente daBitcoin, sofreu um ataque de 51%; isso significa que quem controlar
51% tem o poder de processamento para forçar o registro de uma operação falsa.
Foi o que fez um hacker e pode ter roubado até US$ 18 milhões.
Porque existe a
criptomoeda? Qual seu significado? O que traduz dinheiro virtual circulando,
sem um órgão central regulador? Nesse caso, qual a finalidade do “banco”?
A cripto é reflexo da
cartilha neoliberal no mercado, na liberdade de se poder fazer de tudo em
termos de ganância financeira, de se usar o dinheiro como motivo de riqueza
patrimonial, de se buscar o lucro especulativo na ciranda financeira etc. Ou
seja: seu objetivo é lucrar e lucrar, no supra-sumo do egoísmo anti-social
(abocanho um naco maior do que é de todos). Isso só existe porque foi
implantado o Plano White (FMI = International Monetary Fund), norte-americano
em Bretton Woods (1944), para a recuperação da economia no pós-guerra, em detrimento
ao Plano ICU (International Clearing Union ou Câmara de Compensação
Internacional), do economista britânico John Maynard Keynes (1883 – 1946).
No entanto é preciso ter
clareza do significado do dinheiro. Em primeiro lugar é preciso considerar o
dinheiro como reflexo da atividade humana; ou seja, da “produção” humana é que
deve resultar no “dinheiro” – e não o contrário. Além disso, deve-se considerar
o dinheiro como “unidade de conta”, com objetivo contábil. Nesse caso, o “lucro
normal auto-sustentado” deve ser direcionado de novo à produção e o
“super-lucro especulativo de risco-zero” deve ser canalizado para educação,
arte e saúde. Em segundo lugar, o dinheiro representa “o espírito humano
materializado”; ou seja, é a atividade humana se realizando no mundo.
Comparando a um organismo
humano, o dinheiro representa o “sangue” que, ao percorrer pequenos vasos
sanguíneos (capilares), “caminha sozinho” (igual ao cripto). Mas quando o
sangue cai na gravidade (nos grandes vasos), começa a parar. É preciso que uma
“força propulsora” imprima novamente maior “velocidade” e isso é realizado
pelocoração. Esta é a função do Banco. Além disso, antes de devolver o sangue
ao corpo, o que o coração faz? Encaminha o sangue ao pulmão, para ser
“oxigenado”, isto é, para o sangue ficar novo. O mesmo se observa no caso de
certa quantidade de dinheiro ficar guardada em casa: eleenvelhece (por ter
ficado fora do circuito econômico). Precisa ser “revitalizado” peloBanco, para
se transformar em “dinheiro novo” e ser colocado novamente na “circulação”.
Assim o seu “poder de compra” aumenta. E é isso praticamente o que o banco faz.
Nessa mesma linha de
raciocínio, a moeda virtual seria a “circulação sanguínea” (dinheiro
circulando) sem um órgão central (coração). Outra imagem: o excesso de
vitalidade circulatória leva a um processo “inflamatório” ou ao “câncer
sanguíneo”. Dessa maneira o organismo social se torna doentio.
Para entender a finalidade
bancária, vamos buscar sua origem: o Banco foi criação dos Templários, ordem
religiosa cristã guerreira medieval (1119 – 1312). Nasceu como “banca” na praça
das feiras e servia para “troca” (cambiare) de dinheiro e transações
financeiras, na qual os banqueiros avaliavam, pesavam e trocavam muitas
espécies de moedas. Podiam-se: negociar, pedir empréstimos, pagar dívidas,
adquirir letras de crédito e de câmbio, nota promissória etc. Não havia “juro”
(era considerado usura pela Igreja), pois não se podia lucrar com o tempo; pois
o tempo pertence a Deus etc. Foi o período de grandes construções: em pouco
menos de 200 anos foram construídas 300 catedrais (Chartres, Rouen, Reims etc),
considerado o melhor período da Idade Média, porque o dinheiro foi usado
altruisticamente. Mas essa Ordem foi massacrada pelo rei francês Felipe, o
Belo. Em Portugal sobreviveu como Ordem de Cristo (criada em 1319) e veio para
o Brasil nas caravelas de Cabral, portando a cruz de Malta insuflada pelos bons
ventos.
Se esse impulso veio para
o Brasil, o que estamos fazendo para recolocar o organismo social de volta nos
"trilhos" do progresso e do futuro? Cabe a nós curar o organismo
social doente; ou seja, é necessário que existam "banco" (coração) e
"dinheiro circulando" (circulação sanguínea), para que o organismo
social se torne saudável. Para isso é preciso que cheguemos ao capital livre
das mãos dos indivíduos --- para se tornar capital acumulativo (ou capital
devedor), cuja finalidade será se transformar em “capital de empréstimo”, para
que, através do espírito criador humano, se transforme em “capital produtivo”.
A isso Steiner denomina de circulação de capital – e seus recursos (capital)
poderão vir da vida produtiva, desde que os industriais considerem essa medida
mais humana e ecológica, numa nova ordem social. Quando um interessado em
começar um empreendimento e precisar de recursos financeiros, o Conselho
Cultural (administrador do dinheiro através do Banco Social) analisará se tal
empréstimo tem cabimento, o prazo de retorno do dinheiro etc. Assim o dinheiro
poderá assumir a sua verdadeira e específica função no mundo. Ou seja, este
Banco Social deverá visar a “circulação do dinheiro”, no sentido de fomentar o
capital de empréstimo e de doação, para aqueles que necessitam de meios para
trabalhar economicamente no mundo e para a cultura / saúde / ensino,
respectivamente.
Antonio Marques
Membro do Conselho
Cultural do Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário