domingo, 9 de agosto de 2020

AMÉRICA - III




Cada fase civilizatória prepara a próxima com novas ideias e conteúdos para serem desenvolvidos no futuro. Assim foi com a 4ª época cultural Greco-Romana, que presenteou com “filosofia e direito” a 5ª época cultural Europeia. Assim também recebemos de “herança” o impulso Templário europeu, como vimos no texto anterior, para se concretizar na 6ª época cultural Americana (?) — a Trimembração Social.

Um exemplo de como esse “presente” foi acolhido e incorporado ao nosso país, pode-se constatar no traçado arquitetônico “triangular” da cidade de Juiz de Fora (MG), cujos vértices representam as três esferas do organismo social trimembrado.

Por volta de 1702, o bandeirante Garcia Rodrigues Paes inicia a abertura do Caminho Novo, trilha de penetração de São Paulo às Minas Geraes - depois conectado ao Rio de Janeiro (Estrada Real), como alternativa ao Caminho Velho, de Ouro Preto à Paraty. De um pequeno povoado no Caminho Novo transformou-se em sede comunitária de proprietários agrícolas, prestação de serviços e em torno da primitiva capela de Santo Antônio (hoje Catedral), surgiram casas e comércio. A “fazenda do juiz de fora” ficava à margem esquerda do rio Paraibuna (hoje Av. Garibaldi) - mas o casario foi demolido, por falta de consciência histórica de seus proprietários e do poder público.

Mas a cidade só iria se desenvolver à margem direita desse rio, pelas mãos do engenheiro alemão Heinrich Wilhelm Ferdinand Halfeld, um dos herdeiros da fazenda do juiz de fora, que enxergava longe, tanto que traçou a Rua Direita tão larga, para uma cidade recém criada, que cabem 7 carros lado a lado — hoje Av. Rio Branco.

O quê esta cidade mineira tem de importância no cenário nacional, se não participou das fases clássicas dos impulsos de Minas, que são: fontes auríferas, Barroco Mineiro e Conjuração Mineira (fases anteriores à sua história)? O que ocorreu aqui foi um passo para o futuro, realizando-se precoce e pioneiramente, a “industrialização”, com a 1ª usina hidrelétrica da América do Sul (1888), a mais segura estrada do século XIX, a União Indústria (ligação com o Rio de Janeiro), o maior parque têxtil do país (Manchester Mineira), maior percentual econômico de Minas etc, trazendo a reboque: indústrias, fábricas, tecelagens, alfândega, estrangeiros etc. Paralelamente uma vida cultural rica e promissora, com teatros, jornais, associações, ligas, sociedades, irmandades, conferências, maçonaria etc. refletindo a vontade de criar imagem inovadora para fugir da tradição escravagista e o desejo de civilizar-se nos moldes europeus. E uma vida política/jurídica nobre e ilibada. O mais impressionante é que essas três áreas do organismo social compõem o retalhamento do “triângulo” central da cidade, cujos vértices representam cada uma das três áreas sociais (vide desenho). Pode-se nomear de “trimembração geodésica”, concretizando cronológica e esteticamente os setores: “jurídico/político - cultural - econômico”.

Para completar, como um grande embrião (afinal toda iniciativa da Trimembração Social é precoce para a época), por último, nasce seu “coração geodésico” no centro desse triângulo — o Theatro Central (1929) — assim como nasce o coração embrional humano depois que tem circulação sanguínea.

Juiz de Fora atingiu em 100 anos um desenvolvimento vertiginoso e meteórico, com industrialização próspera, vida cultural rica e política digna. Com a necessidade de construir a capital mineira, seus recursos financeiros foram remanejados para lá e Juiz de Fora caiu num ostracismo e perdeu seu brilho próprio. Ficou este legado do “impulso do tempo”. O quê promete no futuro?
Sempre na história da humanidade aparecem pioneiros com mensagens inovadoras e progressistas, que aceleram a evolução e impulsionam a cultura, como sopro do “espírito do tempo”, como prenúncio para futuras épocas.

Dr. Antonio Marques
Conselho Cultural do Brasil (CCB)




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