Cada fase civilizatória
prepara a próxima com novas ideias e conteúdos para serem desenvolvidos no
futuro. Assim foi com a 4ª época cultural Greco-Romana, que presenteou com
“filosofia e direito” a 5ª época cultural Europeia. Assim também recebemos de
“herança” o impulso Templário europeu, como vimos no texto anterior, para se
concretizar na 6ª época cultural Americana (?) — a Trimembração Social.
Um exemplo de como esse
“presente” foi acolhido e incorporado ao nosso país, pode-se constatar no
traçado arquitetônico “triangular” da cidade de Juiz de Fora (MG), cujos
vértices representam as três esferas do organismo social trimembrado.
Por volta de 1702, o
bandeirante Garcia Rodrigues Paes inicia a abertura do Caminho Novo, trilha de
penetração de São Paulo às Minas Geraes - depois conectado ao Rio de Janeiro
(Estrada Real), como alternativa ao Caminho Velho, de Ouro Preto à Paraty. De
um pequeno povoado no Caminho Novo transformou-se em sede comunitária de
proprietários agrícolas, prestação de serviços e em torno da primitiva capela
de Santo Antônio (hoje Catedral), surgiram casas e comércio. A “fazenda do juiz
de fora” ficava à margem esquerda do rio Paraibuna (hoje Av. Garibaldi) - mas o
casario foi demolido, por falta de consciência histórica de seus proprietários
e do poder público.
Mas a cidade só iria se
desenvolver à margem direita desse rio, pelas mãos do engenheiro alemão
Heinrich Wilhelm Ferdinand Halfeld, um dos herdeiros da fazenda do juiz de
fora, que enxergava longe, tanto que traçou a Rua Direita tão larga, para uma
cidade recém criada, que cabem 7 carros lado a lado — hoje Av. Rio Branco.
O quê esta cidade mineira
tem de importância no cenário nacional, se não participou das fases clássicas
dos impulsos de Minas, que são: fontes auríferas, Barroco Mineiro e Conjuração
Mineira (fases anteriores à sua história)? O que ocorreu aqui foi um passo para
o futuro, realizando-se precoce e pioneiramente, a “industrialização”, com a 1ª
usina hidrelétrica da América do Sul (1888), a mais segura estrada do século
XIX, a União Indústria (ligação com o Rio de Janeiro), o maior parque têxtil do
país (Manchester Mineira), maior percentual econômico de Minas etc, trazendo a
reboque: indústrias, fábricas, tecelagens, alfândega, estrangeiros etc.
Paralelamente uma vida cultural rica e promissora, com teatros, jornais,
associações, ligas, sociedades, irmandades, conferências, maçonaria etc.
refletindo a vontade de criar imagem inovadora para fugir da tradição
escravagista e o desejo de civilizar-se nos moldes europeus. E uma vida
política/jurídica nobre e ilibada. O mais impressionante é que essas três áreas
do organismo social compõem o retalhamento do “triângulo” central da cidade,
cujos vértices representam cada uma das três áreas sociais (vide desenho).
Pode-se nomear de “trimembração geodésica”, concretizando cronológica e esteticamente
os setores: “jurídico/político - cultural - econômico”.
Para completar, como um
grande embrião (afinal toda iniciativa da Trimembração Social é precoce para a
época), por último, nasce seu “coração geodésico” no centro desse triângulo — o
Theatro Central (1929) — assim como nasce o coração embrional humano depois que
tem circulação sanguínea.
Juiz de Fora atingiu em
100 anos um desenvolvimento vertiginoso e meteórico, com industrialização
próspera, vida cultural rica e política digna. Com a necessidade de construir a
capital mineira, seus recursos financeiros foram remanejados para lá e Juiz de
Fora caiu num ostracismo e perdeu seu brilho próprio. Ficou este legado do
“impulso do tempo”. O quê promete no futuro?

Sempre na história da
humanidade aparecem pioneiros com mensagens inovadoras e progressistas, que
aceleram a evolução e impulsionam a cultura, como sopro do “espírito do tempo”,
como prenúncio para futuras épocas.
Dr. Antonio Marques
Conselho Cultural do
Brasil (CCB)
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