domingo, 9 de agosto de 2020

AMÉRICA - VI




O mundo precisa de mudanças! Como realizá-las?

A última mudança aconteceu em 1945, em Bretton Woods (USA), no pós-guerra, quando dois planos econômicos estiveram na mesa de discussão, visando a recuperação da economia mundial. Quem ganhou todos sabem. O Plano White (FMI = Fundo Monetário Internacional), norte-americano, em detrimento ao Plano Keynes (ICU = International Clearing Union ou Câmara de Compensação Internacional), do economista britânico John Maynard Keynes (1883 – 1946). O que este propunha? 

Ele “criava uma espécie de Banco Internacional sui generis para as transações de comércio no pós-guerra, a fim de realizar o equilíbrio automático no balanço de pagamentos das nações participantes. Essa Câmara (ou Banco Mundial) podia dispensar seus membros de qualquer depósito em ouro, dólar ou outra moeda. Ao contrário, ela criava uma nova moeda internacional (de natureza escritural), denominada ‘Bancor’, a ser creditada (como doação) nas contas dos Bancos Centrais dos países participantes, em cotas diferentes (mutantes) segundo o volume de comércio exterior de cada um. A maior originalidade do plano estava, entretanto, na sugestão de se aplicar um tributo sobre os países credores e devedores sendo que o dos primeiros seria uma espécie de ‘juro negativo’, a fim de compeli-los a utilizar seus ‘Bancors’ na compra de produtos das nações devedoras, tornando assim compulsória a participação dos credores no ajuste ao equilíbrio”.
(Fernandes, S. A libertação econômica do mundo pelo esquecido plano Keynes. Rio de Janeiro: Nórdica, 1991. p.128-9).

Por motivos espúrios, o Plano Keynes foi execrado do mundo “economês” moderno e nem seus enunciados são conhecidos. No entanto, Keynes “só é viável” numa sociedade humanizada, como se está propondo nestes textos, muito distante deste mundo polarizado no qual estamos vivendo (esquerda – direita), entre “Imperium ESTATAL” e “Imperium ECONOMICUS”.

A pergunta que se faz: queremos continuar nesse modelo econômico distorcido e cruel, que torna os países e as pessoas “pobres mais pobres?” (making the poor, poorer?) dizia Keynes.  Só que a resposta não se encontra na Economia nem no Estado, mas no modelo de sociedade que queremos construir. Só teremos futuro se resgatarmos o 1º membro do organismo social, a Vida Cultural, para perfazer os três poderes. Por isso a nossa proposta: criar o Conselho Cultural do Brasil (CCB), em Brasília.

E um de seus Departamentos é funcionar como “Banco Social” — por isso é necessário que os bancos públicos sejam incorporados ao CCB (o Estado não tem função bancária) — para fomentar o “empréstimo” ao indivíduo moralmente produtivo e à “doação” às instituições culturais, científicas e filantrópicas.

É preciso considerar as três formas do dinheiro: de compra, de investimento e de doação. O “dinheiro de compra” pertence à vida econômica (ao indivíduo), pois pode-se com ele adquirir e trocar bens. Corresponde ao lado egoísta normal, quando se refere à condição física de subsistência: alimentação, moradia, vestuário, colégio das crianças, viagens, remédios etc. Com relação ao “dinheiro de investimento”, corresponde à poupança e empréstimos (ao indivíduo que precisa de recurso para montar um negócio). A terceira forma é o “dinheiro de doação”.

Poderia surgir o argumento de que o imposto ao Estado já é uma forma (compulsória) de doação e nesse caso não se precisaria mais “doar” para outras iniciativas. No entanto é preciso entender este aspecto a partir da sua origem: o “capital” surge em decorrência da capacidade humana; e nesse sentido seria lógico que os excedentes da produção (os lucros) fossem direcionados de volta à vida cultural, para patrocinar: ensino, pesquisa, artes, saúde, religião etc. Por isso, as “doações” são as verdadeiras impulsionadoras das iniciativas, sejam elas beneficentes, científicas ou culturais.

O que significa ter “capital livre”, do qual tenha desaparecido o trabalho? É um capital acumulativo ou “capital devedor”, que pode se tornar “capital de empréstimo”, para se tornar, por meio do espírito criador humano, “capital produtivo”. A isso se denomina “circulação de capital” e é o mesmo processo que ocorre no “sangue humano”. Este, ao percorrer os pequenos vasos sangüíneos (capilares), “caminha sozinho”. Mas quando o sangue cai na gravidade (nos grandes vasos), começa a parar. É preciso que uma “força propulsora” imprima novamente maior “velocidade” e isso é realizado pelo coração. Essa é a função do Banco. Além disso, antes de devolver o sangue ao corpo, o que o coração faz? Encaminha o sangue ao pulmão, para ser “oxigenado”, isto é, para o sangue ficar novo. O mesmo se observa no caso de certa quantidade de dinheiro ficar guardada em casa: ele envelhece (por ter ficado fora do circuito econômico). Precisa ser “revitalizado” pelo Banco, para se transformar em “dinheiro novo” e ser colocado novamente na “circulação”. Assim o seu “poder de compra” aumenta. É isso praticamente o que o banco faz.

Enfim, nestes textos sobre o papel da América, estão sendo mostrados a “fisiologia do organismo social trimembrado”. Mas de nada adianta se não se reconhecer o ser humano como figura central deste organismo social. Em primeiro lugar ele precisa se desenvolver pela Educação, para o crescimento interior “ético” (virtudes); em segundo lugar ele necessita da Cultura, para o desenvolvimento “moral” (para viver e trabalhar na sociedade). Ou seja, é preciso a conquista do “individualismo ético”, para se tornar num ser “moralmente produtivo”.

Dr. Antonio Marques
Conselho Cultural do Brasil (CCB)

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